liberté

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quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Sentidos

Qual foi a última vez que você parou pra olhar o céu? Eu digo parar mesmo, deitar e ficar observando as nuvens, as estrelas, a lua... Qual foi a última vez que você abraçou alguém de verdade, sentiu seu coração batendo, seus corpos tão perfeitamente encaixados que o mundo inteiro parou? Qual foi a última vez que você se perdeu em meio a um beijo, se perdeu no tempo, no espaço? Quando foi que você andou descalço na grama ou na terra pela última vez? Quanto tempo faz que você não cheira uma flor? Quando foi que você parou pra sentir a brisa tocando o seu rosto e fechou os olhos de puro prazer? Quanto tempo faz que você não sente as texturas de uma planta, das árvores, de grãos, de tecidos, da pele e tantas outras mais? Faz quanto tempo que você não para um pouco para respirar, para se observar, observar o mundo a sua volta, todos os seus pormenores?
A velocidade do mundo aumenta a cada dia, e a cada dia nós deixamos um pouco da sensibilidade para trás. Estamos nos tornando tão mecânicos que não sentimos mais realmente. Não abraçamos de verdade, não olhamos nos olhos, não sentimos o toque, tocar, ser tocado, não apertamos as mãos. Olhamos uma bela paisagem e não a vemos realmente, escutamos o canto dos pássaros e ignoramos, não aproveitamos suas lindas melodias, sabemos aproveitar muito menos o silêncio, nos importamos cada vez menos em observar o mundo, estamos deixando de usar nossos sentidos aos poucos.
Você já reparou no sol nascendo, aquela cor alaranjada magnifica? E quando ele está se pondo, o céu fica levemente avermelhado, um incrível espetáculo... Você já reparou que por diversas vezes o céu assemelha-se a uma pintura, uma esplendida obra de arte que se esvai em poucos minutos? Você já reparou no sorriso das pessoas? Nos olhares? Em como uma expressão muda dependendo do que nós falamos? Você já notou a alegria de uma criança com coisas pequenas como uma simples bolha de sabão?
Algumas alegrias estão nas coisas mais simples, coisas que estamos deixando de apreciar. Um abraço carinhoso, um beijo na testa, um toque demorado, sentir o vento, caminhar pelas sombras das árvores ouvindo os pássaros, admirar o céu, ouvir as pessoas, ser gentil, sorrir, fazer alguém sorrir.
Nós estamos esquecendo da simplicidade, das peculiaridades, dos detalhes, estamos olhando o mundo através de telas, de pequenas prisões que nem ao menos percebemos e estamos deixando de perceber a nós mesmos.
Vamos parar para respirar um pouco, andar mais devagar, observar o nosso entorno, tocar as coisas e realmente apreciar sua textura, ouvir o vento, as pessoas, o silêncio, degustar sabores, amores, vinhos, sentir o cheiro das flores, da terra, da chuva...
Vamos voltar a sentir...
Vamos voltar a viver...
Vamos admirar o mundo.

Angela Pradella
17 de dezembro de 2015

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