liberté

liberté

terça-feira, 16 de abril de 2024

Ausência

    Do dicionário: Substantivo feminino que quer dizer afastamento temporário de alguém do domicílio, dos lugares que frequenta, etc.

    Das vozes da minha cabeça: a falta de algo ou alguém que outrora estava ali. Alguém que já esteve ali e se foi, um sentimento que veio e passou, um pensamento, uma lembrança. A pior ausência é a ausência de si mesmo, ausentar-se do próprio ser. Perder-se de quem você realmente é ou de quem você gostaria ou desejaria ser, almejando ser alguém que os outros esperam que você seja, alguém que você deveria ser. 

    Ausentar-se de si mesmo é ignorar toda a sua essência, na tentativa ilusória e falha de caber nas expectativas de outras pessoas, tentamos caber em lugares tão pequenos que chega a doer. E quem julga a ausência quando se vive em um mundo de aparências, onde é difícil demonstrar o mínimo de autenticidade, o mínimo afeto, o mínimo de pensamento crítico, então a resposta é ausentar-se. Ausentamo-nos de nós mesmo para nossa própria proteção, deixamos de estar presentes, perde-se a vontade, perde-se o brilho, perde-se o sopro de vida e a confiança em nós mesmo. 

    Encontrar-se é um processo lindo, magnifico, mas também muito dolorido, porque dói olhar nos olhos da rejeição, dói ser apontado, dói ser diferente, dói não ser aceito. 

    Tudo que eu sinto agora é ausência, uma fuga pro lugar mais distante dentro de mim mesma. Tudo que eu sinto é ausência. Ausência de algo que se foi, e a pergunta que fica, será que algum dia essa algo retornará?

16 de abril de 2024

Angela Pradella

  


terça-feira, 9 de abril de 2024

Pássaros engaiolados

Esses dias eu tive um sonho interessante, sonhei com pássaros presos em gaiolas, pequenos pássaros vermelhos com verde, presos em gigantescas gaiolas, mas o que chamava atenção era o fato de que apesar de extremamente altas, essas gaiolas não tinham teto, eram abertas, e os pássaros tentavam desesperadamente sair pelas grades, enquanto a parte de cima estava completamente aberta.  Então andei mais um pouquinho e achei alguns deles voando, achei que devia leva-los de volta para a sua casa na gaiola, afinal, eles pertenciam de certa forma a alguém, fui andando com alguns na mão, até que cheguei em uma casa, simples mas bonita, aconchegante, completamente aberta, sem portões ou grade, com uma arvore na frente, onde diversos pássaros da mesma espécie voavam, brincavam e cantavam tranquilos, e uma moça estava ali no jardim, parada me olhando, eu assustada com todo aquele contraste de ambiente perguntei: "moça, esses pássaros são todos daquela gaiola?" ao que ela respondeu: "Não eles são daqui mesmo, vivem soltos", surpreendida, perguntei: "Mas como eles não fogem?". Ela sorriu, um sorriso doce, quase travesso e respondeu: "Eles sabem que á casa deles, eles saem a hora que querem, vão para onde querem, e quando querem, eles voltam". Então eu soltei os pássaros que eu carregava, que voaram felizes para junto de seus amigos que os acolheram com felicidade. E assim terminou, ou assim eu lembro da história. 

Esse sonho me fez pensar nas nossas amarras. Em como nós nos sentimos presos aos nossos próprios sentimentos ou pensamentos. Em como é difícil nos soltarmos e nem por culpa nossa, mas porque alguém nos convenceu de que não dá pra ser de outra forma, que não tem jeito, que não dá pra escapar disso... Estranho e triste como as pessoas se limitam e fazem questão de limitar quem está ao redor. Eu espero que um dia o mundo melhore e que possamos nos livrar dessas amarras invisíveis, que possamos voar em liberdade, pra onde, quando e da forma que acharmos melhor. 

No fundo, eu só espero que o mundo melhor um pouco.

09 de abril de 2024

Angela Pradella

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Sonhos perdidos...

 A primeira vez que te vi, você parecia a pintura de um quadro deslocado daquele ambiente. Parecia que você era muito mais do que tudo aquilo ali. 

E então olhei nos seus olhos, e ali.... foi exatamente ali que me perdi....

No brilho intenso e doce do seu olhar. Olhar que guarda toda a esperança de quem ainda acredita na inocência do mundo. 

Que cativa, que guarda todo um universo cheio de pequenos prazeres e surpresas encantadoras.

Olhar profundo que inunda cada centímetro da alma e do corpo de quem permaneci ali. Que sorri sem precisar se esforçar.

Olhar que me hipnotizou e não me deixou mais partir, aqueceu e derreteu meu coração. 

E então certo dia eu a ouvi cantar uma música que tocava no rádio, meu mundo parou, o tempo congelou, tudo que existia naquele momento era a sua voz saindo pelos seus lábios e o ritmo acelerado ou quase parando do meu coração. Naquele momento eu quase parei o carro e te beijei ali mesmo. Naquele momento eu transcendi. 

Eu poderia fechar meus olhos agora e te ouvir cantando, sentir meu coração acelerando novamente. Ali eu tive certeza que não tinha mais volta ou salvação, a minha paixão.... 

Cada vez que te fiz sorrir, meu mundo se encheu das cores mais belas, meu corpo irradiava a energia da melodia das suas cordas vocais. 

Já era impossível não arrumar uma desculpa ou outra pra te tocar, pra simplesmente sentar ao seu lado ou olhar pra você. 

Quando eu finalmente toquei seu rosto, sem medo, senti sua respiração tocando a minha pele, e meus lábios finalmente tocaram os seus, meu corpo explodiu em pequenas fagulhas coloridas e quentes, cada milímetro do meu corpo simplesmente cedeu a imensurável felicidade de estar no céu. 

Então a infelicidade do mundo resolveu nos acordar do nosso sonho bonito. E agora estou aqui, perdida entre lágrimas e palavras, sofrendo por causa de um mundo que não aceita o amor em sua totalidade, em sua forma mais pura. 

O que eu posso dizer, eu não me arrependo, de nenhum segundo, de nenhuma palavra, de nenhum toque, não me arrependo de ter sentido o gosto doce dos seus beijos. Eu só queria ter você nos meus braços, poder acarinhar seus cabelos, tocar a sua pele... Eu só queria poder olhar pra você. 

Eu só queria viver em um mundo livre.


"Babe
There's something tragic about you
Something so magic about you
Don't you agree?"


Angela Pradella

09 de Abril de 2024

sábado, 20 de agosto de 2022

Eu queria que a vida fosse um filme

É incrível e triste a forma como nós mentimos para nós mesmo durante anos e anos. E mentimos com tanta vontade que acreditamos na nossa mentira. Haja terapia para nos fazer tirar a venda dos olhos. 

Quando a venda finalmente cai e a gente percebe as coisas que perdeu, tudo que deixou passar, uma profunda melancolia invade nosso ser, e talvez alguns de nós venha a tentar juntas os cacos...Os cacos então perfuram-nos os dedos. 

Eu abri os olhos e entendi a minha mentira. O quanto eu deixei passar. O seu amor, que estava ali, e de repente eu entendi todas as músicas e clichês. Nunca fez tanto sentido: "E não adianta nem me procurar, em outros timbres, outros risos. Eu estava aqui o tempo todo, só você não viu". Só agora então eu percebi que eu nunca estive em primeira pessoa nessa música, eu sempre fui a pessoa que não percebeu. 

Eu fui a pessoa cega que escolheu fechar os olhos para algo bom. Eu fui a pessoa cega, clichê, que teve que perder para dar valor. E dói, como isso dói. E eu sei que, talvez eu mereça essa dor. 

 Eu queria que a vida fosse um filme, e que mesmo depois de anos dessa cegueira absurda, você simplesmente me perdoasse. E depois de tantas coisas ruins, e tantos absurdos, tudo fosse deixado para trás. E a gente pudesse finalmente tentar essa felicidade. 

Mas eu sei, eu sei que a vida real não é tão simples assim, eu só posso imaginar o quanto eu te machuquei, o quanto eu te deixei triste todos esses anos. Eu só espero que você possa me perdoar um dia. Que você consiga superar tudo o que eu tenha feito para você. 

Angela Pradella

21 de agosto de 2022 

domingo, 11 de agosto de 2019

Sobre castelos e casas.

As vezes absolutamente nada faz sentido.
Aprendemos coisas de um jeito, coisas de outro jeito.
Mas todos esses jeitos configuram uma maneira de ser que te coloca em um tipo de rótulo que acaba fazendo você se perder.
Se você pensa em fazer algo que está fora desse rótulo, você é imediatamente repreendido, diversas e diversas vezes, até que chega um momento que ninguém mais está apontando o dedo para você, quem está fazendo isso é você mesmo, devido a tanta repetição.
Se torna cada vez mais difícil sair dessa caixa.
Cada vez mais amedrontador abandonar os padrões já definidos.
O que era você se tornou uma reprodução falha daquilo que te disseram ser o "normal".
E chega um dia em que você se olha no espelho e não sabe mais se reconhecer. 
Todos os seus desejos, sonhos, vontades, foram sendo deixados cada vez mais de lado.
Você foi deixando o seu ser pelo caminho, em pequenos pedaços.
Percebe o quanto perdeu de si mesmo, e o quão difícil, ou mesmo impossível, é recolher todos esses cacos espalhados por tanto tempo pelo chão.
E então agora, só te restam as novas escolhas.
Uma desconstrução de um castelo de conceitos criados de fora pra dentro.
Para uma construção de uma casinha simples, com muitas portas e janelas, criada com os mais sinceros desejos, vontades sonhos, de dentro pra fora.
Uma casinha que tem todo o seu jeito, que convida a entrar, mas antes de entrar, exige a limpeza dos pés, exige a sinceridade, exige somente o melhor para si.
Eu estou construindo a minha pequena casinha aos poucos. 
Eu estou me deixando existir, exatamente do jeito que sou.
Exatamente do jeito que quero ser.
Estou me permitindo viver.

Angela Pradella
11 de agosto de 2019.

terça-feira, 28 de maio de 2019

O zero.

O que existe depois que a gente perde o controle?
Quando a gente descobre que todo o conceito de certo e errado que foi criado, talvez não sejam de fato o certo e o errado.
Quando nós olhamos para dentro de nós e começamos a nos perguntar se o que nós somos é de fato o que nós somos, ou produto de diversos e diversos acontecimentos que foram te moldando, te condicionando ao que você é hoje.
Existe uma resposta certa?
Como faz para encontrar o verdadeiro que está dentro de nós mesmo.
Como faz para retomar o controle de algo que nunca esteve em seu controle na verdade.
Como gostar de algo que você não conhece?
Distinguir o que sempre esteve ali, do que foi plantado, planejado, do que foi aprendido.
Respostas, quais são as respostas certas? Ou essas respostas são todas baseadas em um acerto externo?
Quebrado, existe um momento em algo se quebra dentro da gente.
E nós temos que escolher, descobrir o que fazer....
E agora? Consertar? Reconstruir?
Começar do zero? Mas onde fica o zero?
O que é você, quem você é? Do que você gosta?
O que te faz feliz?

Angela Pradella
28 de maio de 2019

terça-feira, 16 de abril de 2019

O eterno procurar.

Ultimamente, sempre e novamente. 
Escrevo, apago, reescrevo. 
Crio diversos rascunhos. 
Intermináveis esboços.
Tentativas de mim.
Tentativas de me descobrir.
Redescobrir, reconhecer, reinventar.
Construir ou reconstruir. 
Começar do zero, ou recriar algo que já existe.
Achar algo perdido, ou algo que nunca foi encontrado.
As vezes eu me perco em mim.
Tantos devaneios, pensamentos.
O que sou, o que desejo.
O que eu quero, o que eu deveria querer.
Mergulho fundo no interior do meu ser.
Tentando me esconder, ou mesmo fugir. 
Ultimamente, sempre e novamente,
Sou esse ser em destruição, criação, recriação.
De algo incerto, algo perpetuo. 
Nesse vai e vem de indecisões e dúvidas.
Sou sobrevivente de mim mesma. 
A força encontrada no mais profundo desespero. 
Sou simplesmente o ser. 
Simplesmente sou.

Angela Pradella
16 de abril de 2019