liberté

liberté

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Flerte Fatal

 As vezes eu flerto com a morte. 

Olho no fundo dos seus olhos e tento decifra-la. 

Olho no fundo dos seus olhos que me olham de volta, intrigados. 

Me olham de volta como se quase um escarnio. 

Como se me desafiasse. 

Como sabendo que nunca serei eu a dar o primeiro passo. 

Me percebe assustada. Me percebe desconcertada. 

Percebe o medo de eu me entregar completamente para esse sentimento. 

Percebe a minha vontade de desaparecer do mundo. De esquecer todas as angustias. 

As vezes eu flerto com a morte e fico imaginando.

Como seria a escuridão, como seria a calmaria. 

Sim, esse flerte me assusta, as vezes. 

Mas é um flerte inconclusivo. 

Um flerte que não tem história.

As vezes eu flerto com a morte. 

Ela me abraça e me acalma, diz que não é por ai. 

Que não temos mesmo a resposta. 

Que ainda não estamos na hora. 

As vezes eu flerto com a morte. 

Ela beija a minha testa, delicada. 

Ela passa a mão nos meus cabelos. 

As vezes ela flerta de volta. 

Mas na maioria das vezes ela simplesmente fica ali, me olhando curiosa.

Como se me compreendesse, como se me acolhesse. 

As vezes eu flerto com a morte e ela flerta comigo. 

Um flerte perigoso, impossível. 


Angela Pradella

10 de outubro de 2025


Das nossas ilusões

 Talvez isso aqui venha a ser um rascunho para sempre. Ou talvez não. 

O fato é que estou com esses pensamentos insistentes ultimamente.

Pensamentos sobre uma ilusão bonita...

As nossas ilusões, as que nós mesmo criamos, são muito cruéis as vezes. 

Todos sabemos que na verdade somos nós mesmo que estando sendo cruéis com nós mesmos.

Mas é mais fácil achar que a ilusão é a grande vilã da história. 

Minha ilusão anda me torturando ultimamente. 

Ela me fez acreditar que aquela música era pra mim.

Que seus olhos me olhavam tantas vezes, perfuravam minha alma porque tinha alguma razão ali. 

Seu olhos, tão intensos, que naquele momento me derreteram por dentro. 

E minha ilusão, querida ilusão me transportou em milésimos de segundos para outra dimensão. 

Para uma realidade paralela onde eu não pude resistir. 

Onde antes mesmo de eu poder raciocinar, meus dedos encontraram sua pele macia. 

Seu rosto já estava entre as minhas mãos. 

Eu já podia sentir o gosto da sua boca, seu hálito quente.

Seu lábios tocando os meus. 

Por um momento, o mundo parou e eu quase me deixei levar pela ilusão. 

Que na minha mente foi tão real, que eu quase não consegui me segurar. 

Que eu quase realmente me movimentei rapidamente para poder te beijar. 

E minha ilusão não contente, não parou por ai. 

Me trouxe você em sonho, onde brincávamos nos fazendo cócegas. 

E de repente eu tive a coragem, ou o impulso de te beijar e beijei. 

E então no mesmo momento te soltei e me desculpei. 

Então você me disse que estava tudo bem e o beijo continuou. 

Tão de repente como começou, ele acabou. 

De repente você já não estava mais ali, simplesmente desapareceu. 

Sumiu no ar e eu fiquei ali, segurando o vento. 

Agora pensando, até que faz sentido. 

Uma ilusão que nunca teve chance de acontecer. 

Uma ilusão que é somente uma ilusão, e nunca vai ser mais do que isso.

Uma ilusão, por mais que seja cruel, derrete meu coração. 

Uma ilusão bonita, um desejo do meu coração. 

Cruel, porém bonita.

 Angela Pradella

10 de outubro de 2025

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Origami

Sigo fazendo origami com meu papel de trouxa. 

Me importando com pessoas que no fim, demonstram que meus sentimentos e eu mesma sou descartável. 

Vivendo em um mundo onde se importar, onde ser cuidadosa, carinhosa e intensa é sinônimo de flertar, ou "investir romanticamente" como me disseram outro dia.  

É claro que quando a gente dá atenção pra alguém que julgamos ser amigo, é um investimento, um investimento de tempo, de amor. 

Eu queria saber quando e onde as pessoas chegaram a conclusão que cuidar, demonstrar carinho, é sinônimo de querer casar. 

Eu, sinceramente, com toda a minha intensidade, acho que nasci na época errada, época de relacionamento líquidos, época essa onde as pessoas acham que o mínimo é aceitável, tanto em relacionamentos amorosos quanto em relacionamentos românticos. 

Uma época e um mundo onde é mais fácil machucar o outro com o distanciamento e o silêncio, do que abrir a boca pra falar o que está acontecendo. 

A sinceridade, a lealdade e o carinho viraram itens de luxo mesmo. 

A cada dia que passa eu me convenço mais de que a resposta pra tudo isso é me fechar, parar de conversar com as pessoas, parar de me importar. Ou pelo menos filtrar mais com quem me importo. Porque eu tenho amigos, que eu amo, que eu cuido, que eu digo que tenho saudade, que eu presenteio, e ainda bem, nenhum deles acha que eu estou tentando dar em cima de ninguém. 

Eu não vou mais me desculpar por ser quem eu sou. Estou cansada de me moldar, tentar me adaptar, eu não tenho bola de cristal pra adivinhar. 

Simplesmente vou tentar me apoderar da ideia de quem eu sou suficiente pra mim mesma. 

E se a minha intensidade não te agrada, eu só lamento.

A porta vai estar sempre aberta, tanto pra entrar quanto pra sair, porém, talvez para voltar o caminho fique mais difícil, ou talvez, até impossível. 


Angela Pradella

19 de setembro de 2024

sábado, 31 de agosto de 2024

Uma Desculpa Generalizada

De repente eu me dei conta de que eu carrego metade da culpa do mundo nas costas. 

E então vou me desculpar, espero que pelas última vez, na esperança de aliviar um pouco esse tormento.

Então aqui começo as minhas desculpas:

Desculpa por ter entrado na sua vida. 

Desculpa todos os transtornos que acabei, sem querer, causando.

Desculpa pela bagunça e por todas as vezes que fui a causa da sua tristeza.

Por ser uma bagunça. 

Desculpa por todas as vezes que fui super protetora.  

Desculpa por todas as mensagens ansiosas querendo saber se você estava bem. 

Desculpa por toda a intensidade do meu ser.

Por me apaixonar de forma tão avassaladora.

 Por todo o meu drama.

Desculpa se não fui a pessoa que você esperava que eu fosse. 

Por você sentir vergonha de estar ao meu lado.

Eu nunca fui perfeita e nem nunca aspirei ser.

Desculpa por simplesmente ser quem eu sou.

 

Angela Pradella

01 de agosto de 2024

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Um desabafo, somente

Ultimamente tenho andado perdida, distraída, distorcida... 

Chamaram a minha sensação de dissociação. 

Quando voltei a sentir, senti tanta tristeza e dor que entendi... 

Entendi porque meu corpo reagiu dessa forma, era mais fácil do que lidar com toda a dor. 

Dor de perda, dor de vergonha, dor de preconceito, dor de ser negada, dor de ser interrompida, dor de felicidade perdida. 

Nunca senti de forma tão intensa a sensação de não pertencer, não fazer parte, a sensação de estar descolada, uma peça quebrada de um triste quebra-cabeças esquecido. 

Uma figura patética que desmorona um pouco mais a cada dia porque não deixa de querer amar e acreditar.

Uma peça dramática equivocada. 

Um erro, um peso, um desespero. 

Um sorriso extraviado.


06 de julho de 2024

Angela Pradella


Monstros embaixo da cama

Queria eu que eles ficassem mesmo somente embaixo da cama...

Mas as vezes eles fazem a questão de subir...

Ora ficam ali parados encarando, ora riem debochados como se soubessem que só por estar ali, estão causando agonia.

Ora eles decidem cutucar, cutucam até irritar... Cutucam onde sabem que dói mais, até o ponto que não da pra aguentar....

As vezes eles resolvem falar sem parar e até mesmo gritar, um barulho enlouquecedor....

E tem aqueles ainda, que não contentes em estar ali, querem se fazer sentir, então se deitam sobre nós, com todo o seu peso nos fazendo ficar quase sem ar... 

Uma agonia que é que se desesperar.....

Ocasionalmente tento, olho para eles, e eles me olham de volta sem entender o que eu quero.... 

Mas sempre é terrivelmente difícil entende-los, e a dor de tentar abraça-los é quase insuportável....  

Um dia será que conseguiremos viver em paz, eu e eles?


Angela Pradella

06 de julho de 2024


terça-feira, 16 de abril de 2024

Ausência

    Do dicionário: Substantivo feminino que quer dizer afastamento temporário de alguém do domicílio, dos lugares que frequenta, etc.

    Das vozes da minha cabeça: a falta de algo ou alguém que outrora estava ali. Alguém que já esteve ali e se foi, um sentimento que veio e passou, um pensamento, uma lembrança. A pior ausência é a ausência de si mesmo, ausentar-se do próprio ser. Perder-se de quem você realmente é ou de quem você gostaria ou desejaria ser, almejando ser alguém que os outros esperam que você seja, alguém que você deveria ser. 

    Ausentar-se de si mesmo é ignorar toda a sua essência, na tentativa ilusória e falha de caber nas expectativas de outras pessoas, tentamos caber em lugares tão pequenos que chega a doer. E quem julga a ausência quando se vive em um mundo de aparências, onde é difícil demonstrar o mínimo de autenticidade, o mínimo afeto, o mínimo de pensamento crítico, então a resposta é ausentar-se. Ausentamo-nos de nós mesmo para nossa própria proteção, deixamos de estar presentes, perde-se a vontade, perde-se o brilho, perde-se o sopro de vida e a confiança em nós mesmo. 

    Encontrar-se é um processo lindo, magnifico, mas também muito dolorido, porque dói olhar nos olhos da rejeição, dói ser apontado, dói ser diferente, dói não ser aceito. 

    Tudo que eu sinto agora é ausência, uma fuga pro lugar mais distante dentro de mim mesma. Tudo que eu sinto é ausência. Ausência de algo que se foi, e a pergunta que fica, será que algum dia essa algo retornará?

16 de abril de 2024

Angela Pradella