liberté

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quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Origami

Sigo fazendo origami com meu papel de trouxa. 

Me importando com pessoas que no fim, demonstram que meus sentimentos e eu mesma sou descartável. 

Vivendo em um mundo onde se importar, onde ser cuidadosa, carinhosa e intensa é sinônimo de flertar, ou "investir romanticamente" como me disseram outro dia.  

É claro que quando a gente dá atenção pra alguém que julgamos ser amigo, é um investimento, um investimento de tempo, de amor. 

Eu queria saber quando e onde as pessoas chegaram a conclusão que cuidar, demonstrar carinho, é sinônimo de querer casar. 

Eu, sinceramente, com toda a minha intensidade, acho que nasci na época errada, época de relacionamento líquidos, época essa onde as pessoas acham que o mínimo é aceitável, tanto em relacionamentos amorosos quanto em relacionamentos românticos. 

Uma época e um mundo onde é mais fácil machucar o outro com o distanciamento e o silêncio, do que abrir a boca pra falar o que está acontecendo. 

A sinceridade, a lealdade e o carinho viraram itens de luxo mesmo. 

A cada dia que passa eu me convenço mais de que a resposta pra tudo isso é me fechar, parar de conversar com as pessoas, parar de me importar. Ou pelo menos filtrar mais com quem me importo. Porque eu tenho amigos, que eu amo, que eu cuido, que eu digo que tenho saudade, que eu presenteio, e ainda bem, nenhum deles acha que eu estou tentando dar em cima de ninguém. 

Eu não vou mais me desculpar por ser quem eu sou. Estou cansada de me moldar, tentar me adaptar, eu não tenho bola de cristal pra adivinhar. 

Simplesmente vou tentar me apoderar da ideia de quem eu sou suficiente pra mim mesma. 

E se a minha intensidade não te agrada, eu só lamento.

A porta vai estar sempre aberta, tanto pra entrar quanto pra sair, porém, talvez para voltar o caminho fique mais difícil, ou talvez, até impossível. 


Angela Pradella

19 de setembro de 2024

sábado, 31 de agosto de 2024

Uma Desculpa Generalizada

De repente eu me dei conta de que eu carrego metade da culpa do mundo nas costas. 

E então vou me desculpar, espero que pelas última vez, na esperança de aliviar um pouco esse tormento.

Então aqui começo as minhas desculpas:

Desculpa por ter entrado na sua vida. 

Desculpa todos os transtornos que acabei, sem querer, causando.

Desculpa pela bagunça e por todas as vezes que fui a causa da sua tristeza.

Por ser uma bagunça. 

Desculpa por todas as vezes que fui super protetora.  

Desculpa por todas as mensagens ansiosas querendo saber se você estava bem. 

Desculpa por toda a intensidade do meu ser.

Por me apaixonar de forma tão avassaladora.

 Por todo o meu drama.

Desculpa se não fui a pessoa que você esperava que eu fosse. 

Por você sentir vergonha de estar ao meu lado.

Eu nunca fui perfeita e nem nunca aspirei ser.

Desculpa por simplesmente ser quem eu sou.

 

Angela Pradella

01 de agosto de 2024

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Um desabafo, somente

Ultimamente tenho andado perdida, distraída, distorcida... 

Chamaram a minha sensação de dissociação. 

Quando voltei a sentir, senti tanta tristeza e dor que entendi... 

Entendi porque meu corpo reagiu dessa forma, era mais fácil do que lidar com toda a dor. 

Dor de perda, dor de vergonha, dor de preconceito, dor de ser negada, dor de ser interrompida, dor de felicidade perdida. 

Nunca senti de forma tão intensa a sensação de não pertencer, não fazer parte, a sensação de estar descolada, uma peça quebrada de um triste quebra-cabeças esquecido. 

Uma figura patética que desmorona um pouco mais a cada dia porque não deixa de querer amar e acreditar.

Uma peça dramática equivocada. 

Um erro, um peso, um desespero. 

Um sorriso extraviado.


06 de julho de 2024

Angela Pradella


Monstros embaixo da cama

Queria eu que eles ficassem mesmo somente embaixo da cama...

Mas as vezes eles fazem a questão de subir...

Ora ficam ali parados encarando, ora riem debochados como se soubessem que só por estar ali, estão causando agonia.

Ora eles decidem cutucar, cutucam até irritar... Cutucam onde sabem que dói mais, até o ponto que não da pra aguentar....

As vezes eles resolvem falar sem parar e até mesmo gritar, um barulho enlouquecedor....

E tem aqueles ainda, que não contentes em estar ali, querem se fazer sentir, então se deitam sobre nós, com todo o seu peso nos fazendo ficar quase sem ar... 

Uma agonia que é que se desesperar.....

Ocasionalmente tento, olho para eles, e eles me olham de volta sem entender o que eu quero.... 

Mas sempre é terrivelmente difícil entende-los, e a dor de tentar abraça-los é quase insuportável....  

Um dia será que conseguiremos viver em paz, eu e eles?


Angela Pradella

06 de julho de 2024


terça-feira, 16 de abril de 2024

Ausência

    Do dicionário: Substantivo feminino que quer dizer afastamento temporário de alguém do domicílio, dos lugares que frequenta, etc.

    Das vozes da minha cabeça: a falta de algo ou alguém que outrora estava ali. Alguém que já esteve ali e se foi, um sentimento que veio e passou, um pensamento, uma lembrança. A pior ausência é a ausência de si mesmo, ausentar-se do próprio ser. Perder-se de quem você realmente é ou de quem você gostaria ou desejaria ser, almejando ser alguém que os outros esperam que você seja, alguém que você deveria ser. 

    Ausentar-se de si mesmo é ignorar toda a sua essência, na tentativa ilusória e falha de caber nas expectativas de outras pessoas, tentamos caber em lugares tão pequenos que chega a doer. E quem julga a ausência quando se vive em um mundo de aparências, onde é difícil demonstrar o mínimo de autenticidade, o mínimo afeto, o mínimo de pensamento crítico, então a resposta é ausentar-se. Ausentamo-nos de nós mesmo para nossa própria proteção, deixamos de estar presentes, perde-se a vontade, perde-se o brilho, perde-se o sopro de vida e a confiança em nós mesmo. 

    Encontrar-se é um processo lindo, magnifico, mas também muito dolorido, porque dói olhar nos olhos da rejeição, dói ser apontado, dói ser diferente, dói não ser aceito. 

    Tudo que eu sinto agora é ausência, uma fuga pro lugar mais distante dentro de mim mesma. Tudo que eu sinto é ausência. Ausência de algo que se foi, e a pergunta que fica, será que algum dia essa algo retornará?

16 de abril de 2024

Angela Pradella

  


terça-feira, 9 de abril de 2024

Pássaros engaiolados

Esses dias eu tive um sonho interessante, sonhei com pássaros presos em gaiolas, pequenos pássaros vermelhos com verde, presos em gigantescas gaiolas, mas o que chamava atenção era o fato de que apesar de extremamente altas, essas gaiolas não tinham teto, eram abertas, e os pássaros tentavam desesperadamente sair pelas grades, enquanto a parte de cima estava completamente aberta.  Então andei mais um pouquinho e achei alguns deles voando, achei que devia leva-los de volta para a sua casa na gaiola, afinal, eles pertenciam de certa forma a alguém, fui andando com alguns na mão, até que cheguei em uma casa, simples mas bonita, aconchegante, completamente aberta, sem portões ou grade, com uma arvore na frente, onde diversos pássaros da mesma espécie voavam, brincavam e cantavam tranquilos, e uma moça estava ali no jardim, parada me olhando, eu assustada com todo aquele contraste de ambiente perguntei: "moça, esses pássaros são todos daquela gaiola?" ao que ela respondeu: "Não eles são daqui mesmo, vivem soltos", surpreendida, perguntei: "Mas como eles não fogem?". Ela sorriu, um sorriso doce, quase travesso e respondeu: "Eles sabem que á casa deles, eles saem a hora que querem, vão para onde querem, e quando querem, eles voltam". Então eu soltei os pássaros que eu carregava, que voaram felizes para junto de seus amigos que os acolheram com felicidade. E assim terminou, ou assim eu lembro da história. 

Esse sonho me fez pensar nas nossas amarras. Em como nós nos sentimos presos aos nossos próprios sentimentos ou pensamentos. Em como é difícil nos soltarmos e nem por culpa nossa, mas porque alguém nos convenceu de que não dá pra ser de outra forma, que não tem jeito, que não dá pra escapar disso... Estranho e triste como as pessoas se limitam e fazem questão de limitar quem está ao redor. Eu espero que um dia o mundo melhore e que possamos nos livrar dessas amarras invisíveis, que possamos voar em liberdade, pra onde, quando e da forma que acharmos melhor. 

No fundo, eu só espero que o mundo melhor um pouco.

09 de abril de 2024

Angela Pradella

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Sonhos perdidos...

 A primeira vez que te vi, você parecia a pintura de um quadro deslocado daquele ambiente. Parecia que você era muito mais do que tudo aquilo ali. 

E então olhei nos seus olhos, e ali.... foi exatamente ali que me perdi....

No brilho intenso e doce do seu olhar. Olhar que guarda toda a esperança de quem ainda acredita na inocência do mundo. 

Que cativa, que guarda todo um universo cheio de pequenos prazeres e surpresas encantadoras.

Olhar profundo que inunda cada centímetro da alma e do corpo de quem permaneci ali. Que sorri sem precisar se esforçar.

Olhar que me hipnotizou e não me deixou mais partir, aqueceu e derreteu meu coração. 

E então certo dia eu a ouvi cantar uma música que tocava no rádio, meu mundo parou, o tempo congelou, tudo que existia naquele momento era a sua voz saindo pelos seus lábios e o ritmo acelerado ou quase parando do meu coração. Naquele momento eu quase parei o carro e te beijei ali mesmo. Naquele momento eu transcendi. 

Eu poderia fechar meus olhos agora e te ouvir cantando, sentir meu coração acelerando novamente. Ali eu tive certeza que não tinha mais volta ou salvação, a minha paixão.... 

Cada vez que te fiz sorrir, meu mundo se encheu das cores mais belas, meu corpo irradiava a energia da melodia das suas cordas vocais. 

Já era impossível não arrumar uma desculpa ou outra pra te tocar, pra simplesmente sentar ao seu lado ou olhar pra você. 

Quando eu finalmente toquei seu rosto, sem medo, senti sua respiração tocando a minha pele, e meus lábios finalmente tocaram os seus, meu corpo explodiu em pequenas fagulhas coloridas e quentes, cada milímetro do meu corpo simplesmente cedeu a imensurável felicidade de estar no céu. 

Então a infelicidade do mundo resolveu nos acordar do nosso sonho bonito. E agora estou aqui, perdida entre lágrimas e palavras, sofrendo por causa de um mundo que não aceita o amor em sua totalidade, em sua forma mais pura. 

O que eu posso dizer, eu não me arrependo, de nenhum segundo, de nenhuma palavra, de nenhum toque, não me arrependo de ter sentido o gosto doce dos seus beijos. Eu só queria ter você nos meus braços, poder acarinhar seus cabelos, tocar a sua pele... Eu só queria poder olhar pra você. 

Eu só queria viver em um mundo livre.


"Babe
There's something tragic about you
Something so magic about you
Don't you agree?"


Angela Pradella

09 de Abril de 2024