As vezes eu flerto com a morte.
Olho no fundo dos seus olhos e tento decifra-la.
Olho no fundo dos seus olhos que me olham de volta, intrigados.
Me olham de volta como se quase um escarnio.
Como se me desafiasse.
Como sabendo que nunca serei eu a dar o primeiro passo.
Me percebe assustada. Me percebe desconcertada.
Percebe o medo de eu me entregar completamente para esse sentimento.
Percebe a minha vontade de desaparecer do mundo. De esquecer todas as angustias.
As vezes eu flerto com a morte e fico imaginando.
Como seria a escuridão, como seria a calmaria.
Sim, esse flerte me assusta, as vezes.
Mas é um flerte inconclusivo.
Um flerte que não tem história.
As vezes eu flerto com a morte.
Ela me abraça e me acalma, diz que não é por ai.
Que não temos mesmo a resposta.
Que ainda não estamos na hora.
As vezes eu flerto com a morte.
Ela beija a minha testa, delicada.
Ela passa a mão nos meus cabelos.
As vezes ela flerta de volta.
Mas na maioria das vezes ela simplesmente fica ali, me olhando curiosa.
Como se me compreendesse, como se me acolhesse.
As vezes eu flerto com a morte e ela flerta comigo.
Um flerte perigoso, impossível.
Angela Pradella
10 de outubro de 2025
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